de
madrugada, sempre arrastava os pés porta fora,
calçada
quente abaixo.
eu
sabia-a desde que sou gente
escondida
entre as saias pretas e os xailes
feios
de circunstância
a
chorar
funeral
sim funeral não
e
a lamentar aos lenços fungosos que
“o
‘mai mal era dos que partiam”
que
para esses não havia remédio.
lavava
os mesmos farrapos na represa há anos
estrangulando
as pedras com um esfregão verde
resmungando
entre dentes contra
presidentes
de junta engravatados
que
comparava aos suplentes da bola
-
sentados e a não fazer um caralho.
tinha
um campo,
terreno
de semeadura
coisa
pequena mais dois ou três barracos
um
galinheiro com quatro ou cinco galinhas.
volta
e meia podava aqui e ali
mas
as poucas árvores que eu via
não
davam filho e estavam condenadas
aos
enxertos de quem não sabe o que é fruto
tão
mirradas e tão pálidas como
as
espigas em ano mau
entregues
à podridão da semente
e
alheias ao chegar novo de cada abril.
e
se eu disser que não tinha eira
não
tinha filhos
nem
tampouco sabia o que era ter homem
e
que o diabo carregasse
as
que os tinham às mãos cheias,
não
minto.
e
todo o ano era esperar
esperar,
esperar
um maio seguinte
em
que pudesse dar o nome para a excursão
porque
raios partam se não tinham mesmo
aparecido
os três pastores em frente à virgem
tocados,
palavra de honra, pela promessa
de
que vinha aí coisa ruim
se
não bradássemos aos céus
as
cinquenta ave marias e salve rainhas a galope.
e
era sempre a primeira a chegar ao adro da igreja
-
pataniscas e azeitonas e broa de milho e o garrafão
de
maduro prontos e impacientes
para
os quilómetros de peregrinação
sentada
a
ouvir o terço
rosário
de pérolas amarrado à mão esquerda
a
passar as contas à pressa, como quem não sabe
se
faltam oito ou oitenta
até à última área de serviço.
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